31 maio Você já ouviu falar que bilinguismo pode acarretar atraso de fala?
Você já ouviu falar que bilinguismo, no início da vida, pode acarretar atraso de fala? Pois é. Essa é uma lenda urbana bastante disseminada, porém não há respaldo científico. Além de não haver evidência de que o bilinguismo prejudica o desenvolvimento da fala, estudos apontam benefícios da prática.
O bilinguismo refere-se à capacidade de se usar duas línguas na vida cotidiana. De fato, a relação entre bilinguismo e comprometimento da linguagem não passa de um mito. Estudos demonstram que crianças expostas precocemente à convivência com outra língua são capazes de gerar atividades cerebrais com sobreposição de idiomas. Entende-se que isso é decorrência de um conhecimento adquirido. A alternância entre idiomas é, assim, mais natural e automática do que quando o aprendizado ocorre na vida adulta – que é o conhecimento aprendido. Quando estudamos uma língua já adultos, áreas cerebrais distintas armazenam o manejo dos dois idiomas e a alternância pode não ser tão espontânea e natural.
Além de não haver evidência de que o bilinguismo prejudica o desenvolvimento da fala, estudos apontam benefícios da prática. “Em um estudo de intervenção clínica comparando a eficácia de uma intervenção monolíngue com a de uma intervenção bilíngue, em que ambas as línguas foram usadas na mesma sessão de terapia, o método bilíngue foi mais eficaz porque a criança aprendeu mais palavras em inglês em sessões bilíngues do que em sessões monolíngues“, conforme explica nossa colaboradora e pediatra, Luiza Menezes.
Já Luciane Baratelli, neuropediatra, esclarece que, nos casos de avaliação do atraso de fala, uma das ferramentas utilizadas para diagnóstico é a contagem das palavras que uma criança verbaliza. Em famílias multiculturais, é fundamental contabilizar ambos os idiomas – e não apenas as palavras em um deles. Muitas vezes, aí está a suspeita de atraso, que é, de fato, indevida. Considerar apenas o conhecimento em uma das línguas pode gerar uma falsa sensação de demora no aprendizado.
Vale a pena repetir: não existem evidências científica de que o atraso de fala tenha conexão com bilinguismo.
Então, se seu filho ou sua filha têm a possibilidade de vivenciar essa experiência multilinguística, aproveite sem medo – e sem mito – essa oportunidade!